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Moacir Ricci

Nascido em S. Caetano, Moacir estudou na Escola de Química Industrial do ABC e na então Esan (antigo Imes), onde se formou na primeira turma de administração. Trabalhou nas empresas: Aços Villares, Matarazzo e Alcan. Quando era universitário, nos anos 1960, criou um programa de rádio com Odair Vituri na Rádio Cacique, de S. Caetano. Imagem do Depoente
Nome:Moacir Ricci
Nascimento:30/07/1941
Gênero:Masculino
Profissão:Químico Industrial
Nacionalidade:Brasil
Naturalidade:São Caetano do Sul (SP)

Transcrição do Depoimento de Moacir Ricci em 07/07/2005
Depoimento de MOARCIR RICCI,63 anos.

Universidade Municipal de São Caetano do Sul, 07 de julho de 2005.

Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC 

Entrevistadores: Herom Vargas e Danielle Barbosa.

Transcritores: Meyri Pincerato, Marisa Pincerato e Márcio Pincerato

 

Pergunta: Por favor, comece falando a data e local de seu nascimento.

 

Resposta:

Boa tarde, obrigado pela oportunidade. Eu nasci em 30 de julho de 1941, aqui na Rua Alegre, na Vila Barcelona, em São Caetano do Sul.

 

Pergunta: Conte um pouco sobre sua família, pai, irmãos.

 

Resposta:

Na verdade meu avô era italiano e ele veio ao Brasil e constituiu toda a família, principalmente no interior, em São João da Boa Vista, onde ele teve os filhos. Mas, com o advento das indústrias, as famílias mudavam para a capital e eles vieram para a Vila Barcelona, em 1924. Meu pai namorou muitas moças, mas acabou se casando com a minha mãe em 1932. Eu tenho um irmão, nascido em 1933, Osvaldo Ricci, e que está no comércio, e eu sou de 1941. Sou herdeiro de uma família de italianos que vieram para o Brasil e que formaram sua história toda aqui. A maioria dos parentes ficou concentrada na Vila Barcelona, os tios. Hoje são praticamente todos falecidos e só ficaram os filhos, netos e bisnetos.

 

Pergunta: Seu pai trabalhava em quê, aqui em São Caetano?

 

Resposta:

Meu pai teve várias oportunidades de trabalho, mas o que marcou a vida deles todos foi a General Motors. Eu vou revelar uma coisa para vocês que revelei em muitas viagens que fiz a GM dos Estados Unidos e também a Opel, quando eu falava para as pessoas no almoço que a primeira vez em que entrei na GM foi quando estava na barriga da minha mãe, porque a minha mãe estava grávida e era empregada da General Motors. Ela, lamentavelmente, faleceu há um ano, com 95 anos. Ela era tapeceira. Meu pai também trabalhou na GM, em várias funções e em várias etapas. Na época eles tinham necessidade de operários, convocavam, e depois, quando não tinham, demitiam e era assim o ciclo e a pessoa ia trabalhar em outro lugar. Assim que eu nasci, minha mãe ficou comigo durante três anos. Dos 3 aos 6 anos ela me deixou com uma vizinha, tia Isabel, que para mim era a tia Bel, uma espanhola, que cuidou de mim quando minha mãe voltou ao trabalho, porque era uma vida muito difícil e o trabalho era necessário para o casal. Minha mãe não tinha formação, nem meu pai. Eles eram operários e trabalhavam duro nas indústrias de base, de trefilação de materiais, na Laminação Nacional de Metais eles trabalharam lá. E, falando da minha vida de escola, dos 6 anos em diante eu comecei a minha vida escolar. Isso foi no Externato Santo Antônio, que não é nesse prédio. Era lá na Conde Francisco Matarazzo, lá embaixo perto da Igreja Universal, mas antes era Cine Max. E foi uma coisa interessante, porque apesar de chamar externato, era praticamente um semi-internato, porque todos os meus colegas, ou a maioria deles, iam fazer o jardim ou o pré das oito ao meio-dia e a outra turma fazia da uma às cinco horas. Só que eu e mais uma meia dúzia de colegas ficávamos o dia inteiro. Então, foi uma ocasião em que eu tive duplicidade no meu ensino. Quer dizer, eu achava que isso tinha de ser mais para frente, quando eu estava na faculdade.

 

Pergunta: Você assistia a turma da manhã, na sala?

 

Resposta:

Assistia a turma da manhã, almoçava com as irmãs, com as freiras, e à tarde assistia a turma da tarde, repeteco, igual. Isso foi no meu tempo. Depois disso entrei na escola paroquial. Um detalhe político aí. Nessa época São Caetano do Sul pertencia a Santo André e teve um movimento chamado autonomistas. Foi um grupo de abnegados cidadãos que quiseram fazer com que a cidade se tornasse livre de Santo André, para ter seu próprio destino. E eu, naquela época, eu tinha seis anos de idade, em 1948, quando houve a eleição dos autonomistas e São Caetano separou-se de Santo André. Eu ficava assistindo àqueles comícios, achava interessante e muito legal.

 

Pergunta: Seu pai participava?

 

Resposta:

Não. Ele gostava, também se interessava, não era o líder do bairro, mas acompanhava as lideranças do bairro. Eles lutavam aqui e em determinada época quiseram mudar o nome da Rua Alegre para Rua Maximiliano Lorenzini, que foi também um senhor de expressão na cidade, que tinha um cinema, mas a comunidade, meu pai liderou para não mudar o nome da rua e é Rua Alegre até hoje.

 

Pergunta: Ele foi dono de cinema?

 

Resposta:

Foi. Esse senhor Lorenzini teve cinema. Primeiro tiveram um cinema e depois tiveram dois ou três cinemas na cidade.

 

Pergunta: E quando criança, o senhor se lembra das brincadeiras que vocês faziam?

 

Resposta:

Eu jogava futebol em campinho. Nós brincávamos de cabana, porque a gente assistia a filmes, no cinema, porque na época não tinha televisão. Aliás, a televisão veio quando eu devia ter uns 9 anos. Nós tínhamos brincadeiras de rua, com as nossas coleguinhas, brincadeiras saudáveis. Nós não tínhamos iluminação na rua, calçamento da rua, não tínhamos facilidade nenhuma, mas mesmo assim nós tínhamos o prazer de cantarolar, de fazer atividades amigas e sadias, que a gente considerava sadias na ocasião e que hoje ainda são.

 

Pergunta: A sua família era pobre, de classe média/baixa?

 

Resposta:

A minha família era pobre.

 

Pergunta: Vocês passavam necessidade?

 

Resposta:

Veja bem. Eu tenho uma coisa a registrar que é muito importante. Eu sempre, na grande maioria das vezes, estudei em escola paga, mas pelo prazer e desejo da minha mãe em voltar a trabalhar e pagar a escola para mim. Eu não posso dizer, eu não era rico para fazer isso, mas o esforço, o sacrifício, a devoção, o desejo que a minha mãe, digo minha mãe, porque meu pai sustentava a casa e a minha mãe complementava para me ter estudando. Ela falava assim: Olha, meu filho, eu recebi um dinheiro e você pega essa importância e vai amanhã pagar sua escola. Ela, desde pequeno, me deu autoridade para levar dinheiro e para cuidar da minha própria vida. Sinceramente, nós não éramos ricos porque eram muito difíceis as coisas. Acredito que no dia de hoje não é diferente, só que os recursos hoje são diferentes. Hoje você tem mais facilidades para algumas coisas e naquele tempo você não tinha.

 

Pergunta: Vocês freqüentavam alguma igreja, associação?

 

Resposta:

Somos de índole católica. Somos católicos romanos e temos ainda um vínculo grande com a Igreja Nossa Senhora Aparecida, porque desde o início estávamos lá, meus amigos e eu também, minha mãe, meu pai. Não que dirigiram, mas como freqüentadores, como religiosos, como atendentes e compromissados com a religião. Eu fiz a minha primeira comunhão, por Vila Barcelona, embora tenha de ter feito lá na Matriz, porque na época não tínhamos nem padre aqui. Foi uma história que, o bairro e a gente, nos dedicamos muito para que tudo acontecesse.

 

Pergunta: O senhor se lembra quando a Goiás era uma pista só?

 

Resposta:

Lembro disso. Ela chamava-se..., eu quis enfeitar e me dei mal. Ela tinha um nome, que ia desde esse trecho que você vê aqui no final do IMES, que se chamava mata-burro, porque os animais estavam pastando ao lado, e tinha uma cerca específica que se usa nas fazendas, para não virem na Avenida Goiás. Eu estava tentando lembrar o nome desse trecho, que é divisa com Santo André até pela altura da Rua Piratininga. Tinha outro nome. Dali para frente é que era Avenida Goiás. Não me lembro o nome.

 

Pergunta: De quais características do bairro que você se lembra?

 

Resposta:

O bairro, acredite se quiser, teve dois cinemas. Teve um cinema chamado Copacabana, que hoje está exatamente, se você for daqui para lá, num local que tem uma agência da Porto Seguro, na Avenida Goiás, quando passa o Centro Tecnológico da GM, logo encostado tem um conjunto de apartamentos e vizinho ali tinha um cinema chamado Copacabana. E posteriormente, pelos idos de 1957, inaugurou o Planalto, onde hoje é a cooperativa da Rhodia. O Planalto era de propriedade dos meus parentes, da família Ricci. Isso é uma característica interessante. Se eu for lembrar um pouco mais, mas não é história do meu tempo, a Vila Barcelona teve bondes que vinham da estação de São Caetano e paravam no alto, na Alameda Cassaquera, onde tinha um curandeiro que benzia as pessoas e esse bonde trazia os devotos que desciam na estação e de lá vinha até a Barcelona, tocado a diesel, se não me engano. Isso está no museu.

 

Pergunta: Você se lembra do nome dele?

 

Resposta:

Vicente Rodrigues Vieira. Não é do meu tempo, mas eu ouvi a história.

 

Pergunta: O que mais você se lembra, das ruas?

 

Resposta:

As ruas, hoje a Rua Flórida era campinho, eu cansei de brincar nos campinhos da Rua Flórida. A própria Rua Alegre tinha muitos terrenos vazios. Hoje tem um hotel muito bonito na Rua Alegre e antes de ter um conjunto de sobrados, que ficou apenas um núcleo lá, tinha lá também um vasto campinho. Era muito para a gente brincar. A gente tinha muitos lugares para brincar. Nós não tínhamos televisão. Era uma bola de futebol, bola de pano. Eu sou do tempo de jogar com bola de pano. A gente juntava os retalhos em casa, colocávamos numa velha meia e fazíamos aquela bolinha. Ela nos alegrava.

 

Pergunta: Como era a sua casa?

 

Resposta:

Minha casa era simples, na Rua Alegre. Ela tinha cerca na frente. Era uma casa de dois quartos, sala, cozinha e o banheiro era no quintal. A casa tem 50 metros e o banheiro ficava a uns 20 metros. Não importava a hora do dia ou da noite, se você tivesse necessidade, tinha de sair de casa, quente da cama, e atravessar tudo. Era o estilo. E tem uma passagem pitoresca do meu pai que um dia ele demoliu a cerca e eu o ajudei, eu era garotinho, e ele fez uma cerca nova. Naquela época os sarrafos em que você pregava as ripas ficavam do lado de dentro e meu pai fez ao contrário. Ele pôs o lado bonito para dentro e os sarrafos para fora. E todo mundo que passava olhava aquilo. E aí, quando um tio meu, meu tio Domingos, foi fazer uma advertência, que ele tinha colocado o sarrafo do lado de fora, ele falou: Eu estou certo, porque ninguém se preocupa com a cerca, mas para a minha todo mundo olha. Ele usou disso, pode ser que ele tenha até errado, mas ele fez de uma coisa difícil uma coisa alegre. O bairro era muito família, você conhecia as pessoas pelo nome, pelo jeito da família, como os pais eram, como os filhos eram. E a gente era muito unido e tudo se sabia. Nós tivemos uma vez um acidente muito ruim, isso na década de 50. Toda tarde eu pegava um dinheiro, minha mãe me dava um dinheirinho para comprar pipoca e o pipoqueiro era um senhor moreno que me parecia de uma bondade extraordinária, um camarada legal que descia com o carrinho dele pela Rua Alegre, sem asfalto, sem nada, ainda tinha as poças d'água, porque nós não tínhamos esgoto e todos os detritos vinham. As pessoas tinham fossas e havia um conceito de que não deviam jogar os detritos do banheiro na rua. E esse senhor descia com o carrinho dele, muito bonito, muito educado e quando passa um tempo nós soubemos de um crime do pipoqueiro. Na época ele assassinou uma pessoa, deu trinta e tantas facadas. Qual foi o meu pesar ao ver, no jornal que se chamava O Tempo, de São Paulo. Os camaradas vieram de São Paulo, porque tinha um histórico aqui na região e pegavam um grupo de jornaleiros e vinham vender aqui, porque todo mundo ia comprar o jornal. Quando vi a foto estampada daquele senhor que vendia pipoca, e era ele que assassinou, são coisas que marcaram muito. Aquele senhor tão bom, tão puro e tão educado, e matou alguém com trinta e tantas facadas, uma coisa que cinqüenta anos atrás era muito difícil. O que se via muito, na época, era roubo de galinhas. Roubaram minhas galinhas, porque o que você tinha para roubar? Não se tinha nada. E ninguém tinha tanta esperteza para fazer isso.

 

Pergunta: Tinha galinhas no seu quintal?

 

Resposta:

Tinha galinheiro. De vez em quando eu ia lá contar e alguém tinha pulado lá e levado à noite, porque nos fundos, se pulava de uma casa para outra. Não era uma coisa segura. Tinha uma cerquinha, o contato amistoso. Quantas vezes minha mãe conversava com a vizinha, trocavam as figurinhas delas do tempo antigo.

 

Pergunta: Aqui no bairro tinha dois rios, córregos, um de Santo André e esse outro?

 

Resposta:

Esse é o córrego do moinho. Esse aí, quem asfaltou esse rio foi o Dallanese, um amigo meu que foi Prefeito da cidade. Ele cobriu esse rio. Primeiro o Braido preparou e depois ele veio e acabou fechando aquilo e ficou todo coberto e ele vai desaguar lá na ponte da General Motors, na Avenida Goiás. Esse era um rio de enchentes, muitas enchentes e hoje melhorou. Tivemos uma muito forte, alguns anos atrás, onde entrou muita água na GM, porque lá é mais baixo, então o rio enchia e a coisa era feia lá. Esse outro da divisão não estou lembrando.

 

Pergunta: E do Externato, você foi estudar onde?

 

Resposta:

Comecei no Externato Santo Antônio, em 1948, no jardim da infância. De 1949 a 1952 eu fiz no Instituto de Ensino Sagrada Família hoje, mas ela se chamava Escola Paroquial de São Caetano. Era atrás da Igreja Matriz de São Caetano. Depois fiz um ano de admissão no Instituto de Ensino de São Caetano do Sul, no ano de 1953, porque eu quis fazer aquele exame de fim de ano e eu não tinha bagagem para poder ir para a primeira série ginasial. Eu passei e de 1954 a 1957 eu fiz o ginásio e depois, com um desejo ardente de ser médico, eu gostava e achava lindo, fui fazer o científico. No meu tempo tinha o científico, normal para os professores e técnico de contabilidade e o clássico para quem ia fazer línguas e coisas do gênero. Não tinha faculdade. Eu não fui bem no científico, porque eu fiz dois anos no Instituto de Ensino e mais um, o curto era de três anos, e eu saí reprovado no segundo ano. Não vou ficar empatando. Eu repeti o primeiro e quando passei para o segundo, eu peguei e parei. Resolvi fazer uma profissão. Aí estava abrindo a Escola de Química Industrial do ABC, hoje Colégio Pentágono. Se você vai para Santo André, hoje tem o McDonald's na Avenida D. Pedro, e era lá, numa casa. Eu fui o aluno número 8. Eu comecei com aquilo. Comecei aqui também, em todo lugar eu comecei.

 

Pergunta: Ela foi demolida.

 

Resposta:

Sim. Nós ficamos muito tristes, porque era tão bonita a casa. Mas, enfim, é o progresso. Fiz química industrial e imediatamente já estava trabalhando, a essa altura. Estava trabalhando como auxiliar de escritório e fui trabalhar como químico nas Indústrias Matarazzo, que está fechada hoje. De lá, a escola continuou e vim para a Alcan Alumínio do Brasil, me casei e depois de casado eu entrei na faculdade. Comecei na ESAN e vim para cá.

 

Pergunta: Vamos voltar à época da juventude. Você se lembra dos cinemas do seu bairro. Você ia a cinemas aqui na cidade, em Santo André? O que você se lembra dos cinemas da região?

 

Resposta:

Os cinemas eram, por exemplo, matinês, que eram legais. A cidade contava, na época, com o Cine Max, que hoje é uma igreja, em frente da Casas Bahia central, tinha também o Cine Urca, que é na altura do prédio número 500 da Rua Manoel Coelho, onde tem os dentistas, os médicos todos e o Primax, que é onde é uma igreja, o prédio está lá ainda, na esquina da Rua Maranhão com a Rua Amazonas. Eram da mesma família Lorenzini. E depois o Copacabana e também o Cine Átila, na Vila Gerti. Hoje é uma casa de bingo, em frente à Padaria Ben Hur, ao lado da Fundação das Artes. O cinema era a única diversão que eu tinha. Eu não era muito chegado a bailes e os bailes a que eu ia eram geralmente de formatura, ou pré-formatura, bailes para encontros.

 

Pergunta: E circos?

 

Resposta:

Muitos circos. Toda hora tinha circo na cidade.

 

Pergunta: Onde eles ficavam?

 

Resposta:

A maioria, no centro onde hoje é o antigo Paço Municipal, ao lado do jardim. E também lá na estação. Aqui na Vila Barcelona, em campos de futebol. Nós tínhamos aqui o campo do Vasco e na Rua Conselheiro Lafaiete, o campo do Barcelona, apenas três quadras dali. Ficavam ali os circos. Eles eram pobres, pediam cadeiras aos vizinhos para fazer os cenários. Era uma coisa interessante.

 

Pergunta: E você ouvia rádio?

 

Resposta:

Bastante. Eu acho, na minha visão, que o rádio para mim é muito mais importante que a televisão. Eu acho o rádio algo extraordinário porque ele comunica longe, ele vai. À noite eu nunca deito direto. Eu pego o rádio e coloco bem baixinho encostado no ouvido, para a minha mulher não me dar bronca. O rádio para mim é muito importante. Eu sempre gostei de rádio.

 

Pergunta: Você se lembra de programas, das emissoras da região?

 

Resposta:

Primeiro falando das emissoras de São Paulo, tinha a Rádio 9 de Julho, que tinha alguns programas bons, que eu gostava, programas de estudantes e programas culturais. Tinha a Rádio Eldorado AM e FM, com locutores extraordinários. Eles tinham uma voz, uma impostação, e falavam com uma clareza, calmos, era muito interessante. E de esportes, a Rádio Pan-americana, Rádio Jovem Pan, a Rádio Nacional que tem até hoje. Era muito interessante e a gente ouvia tudo no rádio. O Sílvio Santos, que tem essa potência hoje, era locutor de rádio, junto com Carlos Alberto de Nóbrega, que é da Praça da Alegria, e o pai Manoel de Nóbrega, junto com o Ronald Golias. Esses camaradas visitavam as cidades. Eles vieram aqui no Grupo Escolar 28 de Julho, onde é essa nova escola estadual, recém-construída, aqui na Rua Oriente e se chamava A Caravana do Peru, porque o apelido do Sílvio Santos é Peru, porque ele é vermelho. Ele trazia esses artistas, uma macaca, porque o rádio trabalhava demais. Tinha concursos. Você participava de muitos concursos de rádio. Tinha uma linha de produtos de limpeza chamada Arigó e eles davam prêmios na hora do almoço. Você recortava rótulos, ia ao correio, depositava a carta, esperava seu nome ser chamado, não lembro se era pessoalmente ou por telefone, e você tinha a oportunidade de responder a perguntas. Tinha também um programa na Rádio Bandeirantes, e você andava a pé na rua e ouvia o programa porque todo mundo estava sintonizado. Aquilo que era o Ibope, porque você via que estava todo mundo ligado. Era um programa em que o ouvinte levava o papagaio lá para ele dizer a marca do produto, que era Arigó Sabão. Tinha pessoas que iam lá e se esgotavam de pedir e o louro não falava nada. Às vezes falava e ela ganhava um prêmio. Tem um jornalista hoje, que também está velhinho hoje, está no meu time, que fez um programa chamado Mil Discos é o Limite. Você ia respondendo todo dia e ia somando discos. No ABC nós temos a Rádio Clube de Santo André, a Rádio Emissora ABC. Eu tenho pouca vivência lá. E aqui era a Cacique, que tive um programa por quatro anos, com Odair Vituri.

 

Pergunta: E como você veio para o IMES?

 

Resposta:

A história do IMES começou lá atrás. Nós tínhamos vontade de fundar uma escola de nível superior à noite, porque na nossa época, estudar na USP era um problema terrível, porque você disputava 50 vagas com um monte de gente e, se você entrasse, tinha de estudar durante o dia. E nós tínhamos de ter algo que contemplasse, porque a gente precisava trabalhar. Aí que falo que não era rico, mas era de médio para pobre, mais para pobre e era recém-casado.

 

Pergunta: Você se casou quando?

 

Resposta:

Eu me casei em 1966. Eu me formei em química em 1965 e em 1966 eu me casei e no final de 1966, início de 1967, prestei para a ESAN. A história começou com a ESAN, em São Paulo. Aí a Prefeitura de São Caetano fez um convênio com a PUC, Pontifícia Universidade Católica, e trouxe uma classe da ESAN para São Caetano. Essa classe fez um vestibular, não valeu meu vestibular lá, eu fiz outro aqui, passei e formamos um grupo de 70 pessoas, mais ou menos, numa única sala, que começou no mesmo lugar do Auditório Santos Dumont, numa sala que hoje eles reformaram e não sei mais qual é. Esse foi o primeiro ano. No segundo ano nós mudamos, em 1968, já veio um novo vestibular com novas salas. Não me lembro se veio uma ou duas salas novas de calouros, mas nós mudamos para um grupo escolar no alto da Rua Espírito Santo, perto da Cerâmica. Ficamos lá porque não tinha local. A essa altura a Prefeitura também criou em outro grupo escolar, na Vila Gerti, próximo a essa Padaria Ben Hur, na Visconde de Inhaúma, esse grupo que cuidou de ciências sociais e políticas e aí começaram a construir aqui. O professor Oscar Garbelotto, Secretário de Educação do Braido, formou essa faculdade. Tem foto minha no museu dos veteranos, porque na pedra fundamental eu estava aqui. Está registrado. Essa é a nossa história. Desde que viemos para cá, quanta coisa nós fizemos! Que bonito foi! Juntou todos os amigos, então quem estava em ciências sociais e economia, juntamos todos com a administração.

 

Pergunta: Que cursos eram?

 

Resposta:

Ciências sociais, econômicas e administração de empresas. Depois teve comércio exterior. Outra coisa que aconteceu depois foi que criaram um turno para a manhã, porque tinha muitos colegas que trabalhavam no período vespertino, das quatro à meia-noite, e que vinham estudar de manhã. Os cursos foram desmembrados para a manhã. E aí o IMES cresceu e só foi crescimento.

 

Pergunta: Quais eram os problemas da ESAN? Por que começou o movimento dos alunos?

 

Resposta:

É uma pergunta muito pertinente. Eu fiz uma indagação antes. Porque a ESAN não deu para São Caetano o que São Caetano esperou e contratou, que eram os professores de ponta. Não querendo desmerecer os estagiários e nem os recém-formados, mas a ESAN tinha lá os professores de cabelinhos brancos, vividos e eles transferiram os que estavam começando. Então, eles não tinham uma vivência. Nós tínhamos na sala de aula profissionais que tinham igual ou melhor competência naquele assunto do que o professor. Se o assunto era finanças ou administração de pessoal, algum profissional da nossa turma, de vivência, questionava. Isso era normal para nós. Era preciso alguém que pudesse dialogar de uma forma melhor, como a gente espera de um professor. Então, isso foi levado ao Prefeito, por mim várias vezes e pelos meus colegas, dizendo que não estava bem.

 

Pergunta: Como era organizado isso? Havia uma comissão?

 

Resposta:

Era uma sala, depois houve duas salas. Depois de passados dois anos, acabou, porque foi formada a faculdade e ele contratou gente, a faculdade contratou gente de nível elevado. Estava comentando lá que nós tivemos um professor, que dava aula de sábado à tarde, riquíssimo, não sei se é vivo hoje, e ele era diretor da Faculdade de Economia do Mackenzie. Lá ele era diretor e aqui ele era professor nosso e vinha dar aula de sábado à tarde, chamado professor Arnaldo Caropreso. A gente ganhava isso, ganhava um impulso, lutava e mostrava o que estava errado. Foi uma coisa surpreendente como nós éramos unidos.

 

Pergunta: (Inaudível)

 

Resposta:

A escola foi projetada, preparada, para 500 alunos. E na época, a gente sabia que podia e deveria crescer, mas não tanto quanto hoje. Fiquei surpreso quando o IMES virou universidade. Que bom, depois de tantas dificuldades que tivemos aí, para aprovar as coisas. Meu diploma não saiu no dia que me formei, mas saiu anos depois, e já reconhecido, está protocolado na USP, tudo bem, mas não era na hora, porque você tinha de dar uma maturação. Primeiro acreditam em você e depois você tem de demonstrar para que você veio.

 

Pergunta: Qual era o perfil desses alunos das primeiras turmas?

 

Resposta:

Em termos de cultura? O grupo era muito unido e era de várias frentes. Tinham alguns que eram filhos de proprietários e que tinham negócios familiares, e outros que como eu vinham da indústria. Então, tinha diversas características de indústria. Tinha quem trabalhava na área de contabilidade, de engenharia, como eu que sempre trabalhei nessa área, mesmo sem ser engenheiro, tinha aqueles que trabalhavam em ramos comerciais. Era bastante diversificado o grupo. Agora, era muito unido. Tanto no ano de 1969, como no ano de 1970, a minha sala de aula, que era do terceiro e quarto anos, porque a primeira turma formada no IMES foi a minha, essa turma pensava para frente. Não era só assim, ser absolutamente responsável, também tínhamos momentos de prazer, de lazer, mas tudo bem. Era difícil pagar a faculdade, muito embora a Prefeitura ajudava, mas nós tínhamos dificuldade para pagar a escola, os livros e tudo mais. Tinha de trabalhar, fazer horas extras, todo mundo tocando a vida, a família crescendo, uns casando e vivendo a vida. Aí um grupo reuniu o pessoal para ver se defendia o dinheiro da escola. Vamos fazer uma rifa de um automóvel. No ano de 1970 nós rifamos, a nossa sala de aula rifou um automóvel. Você pega um automóvel no mercado de hoje, Uno, Ka, Celta, a gente ia dar o valor do carro para o ganhador. Cada aluno da sala, sem exceção, não pode dizer que não quer, vai ter de assumir um quarenta avos do valor do carro. Vamos supor que uma sala de aula tenha quarenta alunos e que o carro custe 40 mil reais; cada um tem de dar mil reais. Só que dos 40 mil nós vamos buscar 100 mil reais. Cada aluno vai vender em casa, na fábrica. E se o cara não vender? Não tem problema, vai dar os mil dele e ficar com a rifa. Se ele ganhar, tudo bem. E isso foi interessante porque a gente lançava isso lá por abril ou maio e colocava para correr em outubro ou setembro, porque a turma pagava em duas ou três vezes. Eu não saberia dizer quanto custaria isso. Se você colocar uma rifa de 100 reais hoje, você precisa fazer mil números para fazer 100 mil reais. E mil números divididos por 40 alunos são 25. Um cálculo que não fiz, mas estou fazendo aqui, cada um dos 40 alunos, tinha de dar 2500 reais. Vamos vender.

 

Pergunta: Isso foi feito?

 

Resposta:

Foi feito e vendeu como água. Aí você pega 60 mil reais e divide entre os alunos, entre aspas, você pagava, se não a totalidade, quase a totalidade do curso. Isso foi muito inteligente. Não era muito legal, mas a gente corria os riscos. Se alguém nos questionasse, a gente tinha conta em dois ou três nomes de colegas, demonstrativos, tudo de respeito.

 

Pergunta: Como era o IMES? Já tinha a Atlética e o Centro Acadêmico?

 

Resposta:

Tem bastante história, porque muito embora eu me dedicasse às aulas, eu não ficava 100% na aula. Eu sempre olhava o DACO, Diretório Acadêmico Catorze de Outubro. Tive chance de ir à inauguração do DACO, numa sessão solene na Câmara Municipal de São Caetano em 1968. O Sílvio deve ter sido presidente do DACO, não me lembro, o Silvio Minciotti, mas tenho até gravada a saída do Ângelo Marquetti, que deu uma força grande ao DACO e a entrada do Nicola Serra Boldrin, que foi nosso colega na GM. E o DACO era... A pergunta sua foi interessante, porque a escola era pequena e você envolvia rápido, você comunicava alguma coisa para as pessoas e elas atendiam você.

 

Pergunta: O que vocês faziam?

 

Resposta:

Fazíamos atividades esportivas, jogos entre turmas, atividades culturais.

 

Pergunta: Quais?

 

Resposta:

Shows. O que mais?

 

Resposta:

E os festivais de música?

 

Resposta:

Não me lembro de ter participado aqui na escola. Tinha muita visita, aproximação com grupos de teatro de fora. O grupo vinha visitar. Não tinha a intenção de fazer cursos de teatro, mas quem realmente gostava da coisa ia ver. Eram mais atividades esportivas. As outras eram menos. O DACO se preocupava com várias atividades. A recepção do calouro era muito interessante. Na época, os veteranos eram convocados para trabalhar nos vestibulares, como fiscal mesmo, ficar de olho para alguém não tentar colar, para não prejudicar outro colega. E também o DACO se preocupava, principalmente na administração do Marquetti, a secretária social que era na verdade uma moça sensacional que havia ali, e nós pusemos, como símbolo, a Mônica, do Maurício de Souza, da revistinha. E aí convidamos o Maurício para vir aqui e ele fez uma apresentação para nós. Esse era o DACO, trazia esse tipo de coisa. A festa do dia das crianças que fizemos em 1970 foi algo extraordinário. Eu me lembro que cuidei do saquinho do sanduíche de salsicha. Até aquilo tinha, era preciso dar um saquinho, porque as crianças iam comer. Nós demos cachorro-quente, refrigerante, guaraná. O que faltou? No dia, oito horas da manhã, acabou a luz. Apagou no bairro inteiro, na cidade inteira. Era a Eletropaulo fazendo alteração de linha e isso nos levou praticamente a manhã toda, até duas horas da tarde. Tinha caminhão dos bombeiros para as crianças subirem, jogos internos para aproximar os filhos dos alunos, ou os irmãos dos alunos, tudo dentro da faculdade.

 

Pergunta: Quem eram os professores principais?

 

Resposta:

Alguns eu lembro, mas não de todos, alguns ainda estão aí até hoje. Tinha o professor de contabilidade, vários professores de matemática. Tinha um professor, não sei se é vivo até hoje, chamado Fernando Ponto, muito bom. Esse dava aula em várias faculdades de São Paulo, era muito fino. Às vezes o aluno dava uma tirada, mas a resposta dele era divina, você aproveitava muito.

 

Pergunta: Como era a relação entre alunos e professores?

 

Resposta:

Era boa. Quando não, nós íamos logo falar com alguém que não estávamos satisfeitos. Era um ranço isso. A gente, no tempo da ESAN, foi falar com o Prefeito que nós não estávamos agüentando. E os professores faltavam, não tinham compromisso. Aí a Prefeitura resolveu unir as duas. Quantas idas ao Ministério da Educação para poder resolver isso!

 

Pergunta: Conte para nós sobre o programa de rádio.

 

Resposta:

Esse é um filhote bom. O Odair Vituri, meu colega, ele, eu e o irmão dele, com outros colegas, fizemos um curso de oratória no Sesi de São Caetano, aos domingos. Quando acabou, deram o canudo para nós e acabou. Eu já estava sedento por um programa de estudantes porque eu já havia ouvido e participado, na Rádio 9 de Julho, em São Paulo, e aqui em São Bernardo, em Santo André, na Rádio Emissora ABC, que até um colega nosso fazia aos sábados. Vamos batalhar. Nos reunimos, formamos uma equipe e fomos falar com o diretor da Rádio Cacique. Ele falou que não imaginava o que seria, se a gente tinha patrocinador. Claro que não temos nada. Nós temos de pagar? Claro, porque o minuto no rádio é caro. Mas tinha um programa da uma (hora) a duas (horas) que era um programa meio subsidiado por alguém, ou pela rádio, que não tinha lá grandes patrocinadores, e ele nos deu 15 minutos. Botar toda a nossa vontade em 15 minutos era difícil. Aí, aos poucos, ele deu meia hora. Aí nós arrumamos patrocinador e ganhamos uma hora. A GM, eu na era de lá, era de outra empresa e nem imaginava que ia trabalhar lá, ela nos pagou durante uns dois anos o patrocínio e nós tínhamos uma comissão de 30%. Se fosse hoje 10 mil reais por mês, 3 mil reais, 30% era nosso.

 

Pergunta: Quando foi isso?

 

Resposta:

Foi de 1963 a 1967. Na revolução de 1964 nós fomos censurados. O Odair Vituri estava com um comentário forte e ele foi censurado e não deixaram. O regime militar não permitiu que a gente pusesse no ar aquilo, que era contra a empresa de ônibus que deixava os estudantes no meio do caminho. Eram reclamações desse tipo. O programa, enquanto esteve no ar, foi interessante, porque ele tinha seções como Momento de Poesia, tinha músicas, comentários. Eu fazia a apresentação final, abria e fechava. Tinha uma música muito linda chamada Piu, tocada pelo Ray Conniff, que era a nossa abertura e fechamento. Quando a gente colocava aquilo no ar, todo mundo já sabia que estava no ar o programa. Trouxemos vários estudantes, até internacionais, naquele programa de intercâmbio. Trouxemos uma menina americana que estava no Brasil e veio nos atender no programa e foi entrevistada pelo Mário Quavella Júnior, outro amigo meu, que conversava com ela e botava no ar em português. Foi muito bom. O programa nos deu uma união muito grande.

 

Pergunta: Qual era o nome?

 

Resposta:

Entre Estudantes. Era a Equipe 8, porque éramos oito colegas. Depois acabou saindo alguém, entrando alguém. Foi uma época gostosa. E nós sorteávamos brindes que eram ingressos para teatro, para algum show, alguma apresentação. O pessoal telefonava para responder a alguma pergunta. Era o diferencial.

 

Pergunta: Por que vocês pararam?

 

Resposta:

A rádio nos convidou a deixar, porque eles não queriam mais nos subsidiar, porque a GM deixou de pagar. Ficamos mais uns seis meses no ar e a rádio não aceitou mais. Não tem patrocinador, não tem programa. Desligaram e acabou.

 

Pergunta: Vocês não tentaram outra rádio?

 

Resposta:

Não, porque também o grupo foi dispersando. Acabou o programa, acabou o compromisso. Tinha gente que tinha mudado de cidade. A coisa foi acabando.

 

Pergunta: Quando você teve o programa, quando você veio para o IMES, você já era casado?

 

Resposta:

Durante o programa eu me casei. Na época do programa eu casei e vim estudar no IMES em 1967, já acabando o programa. Em abril ou maio acabou o programa. Daí para frente não tinha mais compromisso com a rádio e só com a faculdade, com as coisas da faculdade.

 

Pergunta: Você teve filhos?

 

Resposta:

Tive uma filha, única.

 

Pergunta: E como era sua vida, trabalhar, estudar durante a noite.

 

Resposta:

Era terrível. O ano de 1968 foi o ano de fogo da minha vida. Por quê? Eu troquei de emprego, indo trabalhar na GM, o grande sonho da minha vida. Ao entrar na GM eu entrei no regime de horas extras. Eu estava no segundo ano de administração no IMES, estudando longe, sem automóvel, de ônibus, duas conduções. Saía tarde da fábrica.

 

Pergunta: Onde você morava?

 

Resposta:

Eu morava na Barcelona e a escola, em 1968, era na Espírito Santo. Eu não tinha automóvel e tinha de ir de ônibus, e o bicho da política me pegou e eu me candidatei a Vereador. Só que outra coisa, vamos abrir bem o coração: quando faltavam três dias para a eleição, eu descobri que a minha filha era deficiente auditiva. Aquilo foi um baque muito grande, porque eu tinha de administrar a minha vida, praticamente recém-casado, recém-pai, recém na faculdade, recém na GM e recém-candidato a Vereador. Tive honrosos 431 votos quando na verdade precisaria de 800 para me eleger. Depois não procurei mais, porque quatro anos depois fui convocado para o partido e estava na GM numa época que estavam me abrindo os horizontes e eu preferi continuar na GM, fiz carreira e isso foi satisfatório.

 

Pergunta: E a relação da General Motors com o IMES, com os alunos, fazendo cursos?

 

Resposta:

Na verdade o que nós tínhamos lá era um grupo de alunos da escola que trabalhavam lá. Se a gente pegar a relação, tinha de oito a dez alunos que trabalhavam lá. Como isso, a gente tinha também acesso à diretoria. Então, trabalhou na GM um senhor que foi vice-presidente, famoso no Brasil, André Beer, esse senhor nos abriu muitas portas. Até na formatura a gente ia chamar um ministro na ocasião, chamado Delfim Neto, que era o papa na ocasião, e esse senhor que entrou em contato com ele, porque nós não tínhamos como chegar em Brasília e chegar no Delfim Neto; ele foi claro que não poderia porque estaria no exterior, mas que poderia recomendar alguém. Ele mandou o chefe de gabinete dele, que fez um bom discurso de formatura. Fora isso, a aproximação da GM, utilizando a faculdade. Eu mesmo, depois de ter saído daqui, participei de várias reuniões que a seção de compras fez aqui, cursos da escola. A GM se aproximou aos pouco, mas eu já estava fora, nessa época. Quando dava, eu voltava.

 

Pergunta: Eram parcerias?

 

Resposta:

Sim, com cursos para efetivar. Às vezes ela contratava as pessoas e ela usava o espaço do IMES.

 

Pergunta: Quando a ESAN começou, quais os horários dos cursos?

 

Resposta:

Era curso noturno. Começava às sete horas da noite até onze e meia.

 

Pergunta: Quando a ESAN foi incorporada, como foi?

 

Resposta:

Só curso noturno, todos os cursos, economia, administração e ciências políticas e sociais. Era tão interessante que os políticos de São Caetano, não falo como gozação, mas é pitoresco, não vou citar nomes para não cometer algum deslize, mas quando eles faziam campanha política eles diziam, que ele trouxe para São Caetano uma escola de ciências políticas e sociais que pudesse dar ao jovem a oportunidade de se engrandecer, de aprender tudo que fosse preciso para se tornar um político. Ele usava isso no palanque, reforçava que a Escola de Ciências Políticas e Sociais veio para preencher essa lacuna que a cidade tinha. Coisas pitorescas, que eu ouvi e as outras pessoas ouviram também.

 

Pergunta: Nos quatro anos que o senhor esteve aqui, o senhor se lembra se tinha curso vespertino ou foi sempre noturno?

 

Resposta:

Na minha época sempre foi noturno. Assim que eu saí, entrou o vespertino, em 1971, 1972.

 

Pergunta: O senhor sabe alguma coisa da história da estátua?

 

Resposta:

Sei bastante. Esse senhor Prefeito Walter Braido contratou uma equipe, ou o diretor de cultura contratou esse artesão para fazer uma estátua, cuja finalidade era doar a Roma, porque o Papa, ou alguém, tinha dado uma rosa de ouro ao Brasil. E São Caetano quis retribuir e fez a estátua. Mas quem vai pagar para levar isso para lá? Onde vamos botar isso? Eles estão querendo isso lá? Essa estátua ficou na Praça da Sé por muito tempo, até que a Praça da Sé não quis mais a estátua e a devolveu e voltaram a instalar no IMES. É um São Pedro. Não tenho os jornais da ocasião, mas é muito interessante essa história, porque era uma retribuição que o Brasil, via São Caetano, ia fazer a Roma, por ter recebido uma rosa de ouro.

 

Pergunta: (Inaudível)

 

Resposta:

Primeiro era o que nós vamos estudar. Eu não fiz sozinho isso. Eu fiz  com um amigo meu, hoje até compadre, sentados os dois, na época ele era solteiro e eu já era casado. Eu não tive, eu tinha o sonho de ser médico, mas ficou para trás e acabou. Fiz química industrial, trabalhava no laboratório de química e nessa ocasião era a oportunidade de ver o que ia fazer. Eu não sei se foi facilidade ou as dificuldades que nos empurraram para essa facilidade, então vamos ter de prestar o vestibular. Vamos nos preparar para quê? Nós pegamos o que dava para fazer à noite, lá em São Paulo porque não tinha idéia que ia sair o curso em São Caetano. Uma das faculdades era o Mackenzie, de dia, outra era a USP, também de dia, tinha a FGV, mas a gente não sabia, a FGV era como Marte, eu não sei se vou poder fazer, faltava esfera, não tinha condição, pelo menos no que a gente sabia, dominava. E aí fomos pesquisar o mercado e a ESAN se ofereceu como uma solução e acabamos entrando na ESAN. Entramos uns três ou quatro. Se não houvesse o IMES, teria concluído lá na ESAN o meu curso de administração de empresas. Eu penso o seguinte: como não tive oportunidade de fazer medicina, no futuro, se eu me tornasse um gerente, como aconteceu na minha carreira, eu teria usufruído os ensinamentos que tive em administração. Era gozado, porque na ocasião os vizinhos não tinham idéia do que poderia ser, a gente também não tinha idéia, e eles falavam que eu sendo técnico, quando eu fosse administrador poderia juntar dois cursos. E depois eu cansei de ver administrador ir fazer engenharia, fazer filosofia, mas tudo em função do tempo, da época em que você vive. A sua pergunta é importante porque na minha época não tinha alternativa. Ou faz isso ou faz o quê?

 

Pergunta: Tinha um curso de seis anos?

 

Resposta:

Faculdade de Economia. Eu não era chegado em economia, então preferi administração.

 

Pergunta: A gente está chegando ao final e a gente costuma que o entrevistado deixe uma mensagem gravada, algo que tenha a ver com a sua história de vida, que fique guardada para as pessoas que depois vão assistir ao vídeo, alguma coisa, da sua história de vida, que você possa registrar.

 

Resposta:

Quero deixar, como legado às pessoas que me sucederem, no seguinte sentido. Respeito às pessoas e ao meio ambiente. Isso é muito importante, porque eu não preciso viver de beijinhos e amores, levando pessoas na minha festa, mas eu preciso respeitar as pessoas, enquanto pessoas, onde elas estiverem, sejam meus superiores, sejam meus iguais, ou meus inferiores, naquele momento, porque na vida da gente tudo é momento. E outra coisa é que na vida da gente, uma vez a gente é cego e na outra a gente é guia. Nunca se esqueça que em determinado momento um pobre pode pegar você pela mão, ou um inferior seu no departamento, e conduzir você, porque naquele momento ele sabe mais do que você do problema. Isso que quero que as pessoas pensem, que ninguém é melhor do que ninguém. Todos somos diferentes, mas todos temos que ter a responsabilidade e o dever para com a pátria, o respeito para com o cidadão e o respeito para com o Criador. Se nós fizermos isso, estaremos tranqüilos e poderemos levar uma vida fabulosa. Agradeço a oportunidade e um abraço a vocês todos.

 


Acervo Hipermídia de Memórias do ABC - Universidade de São Caetano do Sul